A passos lentos uma senhora caminha transversalmente até a margem de uma estrada. Ela pára, espera a passagem de alguns carros para poder, então, seguir sua caminhada.

Os sons dos motores acelerados varrem ela e seu entorno, preenchendo todo espaço sonoro da vizinhança. A cada carro que passa sobre as vidas de Benesti, um novo som, antes imperceptível, revela-se e torna-se audível. Esses carros, frequentes passantes, conduzem a escuta dessa peça. Atuam como ondas de decibéis capazes de nos transpor, de casa em casa, a cada uma das moradas à beira de estrada no interior da Romênia.

Tamanho impacto sonoro desperta também uma nova proposição de escuta: um som pode esconder outro som, mas um som, poderia conter em si, um outro som? (1) Objetos e ações completamentes distintas poderiam gerar sons idênticos?

A procura por sons gêmeos e a descoberta de “morphings espontâneos” em minhas gravações de campo são os fios condutores desta criação sonora.

(1) One train may hide another, Kenneth Koch

Partindo da premissa de não usar efeitos digitalmente aplicados, algumas técnicas foram desenhadas para essa criação:

• cadavre exquis sonoro_ para propor a terceiros o encontro de similares sonoros, partindo da escuta de pequenos excertos de áudio.

• modulação artesanal_ para aplicar, manualmente, a um dado áudio, a curva de intensidade sonora do áudio seguinte.